No próximo dia 23 de março, o Cine Marquise recebe exibição única do mais recente documentário do diretor paulista João Nascimento, “Tambores da Diásp

Com a participação de grandes nomes da percussão, o filme aborda a ancestralidade e a tecnologia dos tambores no ambiente sócio-cultural da sociedade contemporânea e traça um viés político e cultural que envolve os instrumentos em questões sociológicas, ritualísticas e artísticas e seu papel de porta-voz da diáspora africana

 

Nascido no Morro do Querosene, em São Paulo, o cineasta e artista de múltiplas linguagens João Nascimento celebra seu território de origem como uma grande referência dentro de sua trajetória após dirigir e lançar, em 2021, duas importantes obras na cena cinematográfica, intituladas “Danças Negras” e a websérie “Escola do Samba”. Agora, sob a perspectiva dos tambores, sua mais recente produção, “Tambores da Diáspora”, tem por motivação a necessidade de contar histórias que são invisibilizadas no ambiente das artes eurocentradas, além de documentar narrativas que valorizam devidamente a cultura negra no Brasil, contribuindo para o processo de descolonização cultural. Para Nascimento, o audiovisual tem sido uma ferramenta que cada vez mais serve como meio de registro de suas pesquisas no campo das artes negras que já conta com duas décadas de projetos potentes retratando histórias que instigam o despertar de reflexões sobre o modo de vida social, político, artístico e cultural da diáspora africana.

 

“Eu cresci aos pés dos tambores, nas rodas de capoeira, aos sons dos batuques, nos toques de atabaque para os ibejis nas festas de Caruru que acontecem há 38 anos no quintal de minha casa. Então, o filme “Tambores da Diáspora” nasceu da curiosidade de compreender e aprofundar o conhecimento sobre esse vasto universo percussivo” , afirma Nascimento.

 

O filme traz depoimentos e narrativas de grandes nomes das batucadas como Silvanny Sivuca, Beth Beli, Dinho Nascimento, Simone Sou, Dinho Gonçalves, Pedro Bandera, Marcos Suzano e Paulo Dias, que, por meio de tomadas espontâneas ilustram performances, identidades, pensamentos e reflexões que atravessam o racismo cultural, a espiritualidade e a ancestralidade. Além disso, fica evidente ao longo do filme que existe uma organização de composições e arranjos fundamentados nas células rítmicas executadas pelos tambores, que passam a ser interpretadas e incorporadas por outros instrumentos e escolas musicais.

 

Diante de uma sociedade colonialista e fundamentalista, que em tempos não distantes possui um histórico de confiscar atabaques em espaços sagrados de matrizes africanas, bem como ainda hoje persegue terreiros de culto aos orixás, o tambor torna-se símbolo de resistência negra e brasileira, objeto artístico-político central deste documentário que possui relevância em difundir e valorizar o instrumento e sua versatilidade musical, abordando a complexidade de toques, técnicas e narrativas que dizem respeito ao ambiente sociológico da "comunidade dos tambores", diz  Nascimento.

 

O documentário começou a ser rodado em 2012, em parceria com o percussionista Pixú Flores, enquanto a dupla gravava o disco “Afro2 Laboratório de Ritmos Afro-brasileiros”. Muitos dos personagens presentes no filme foram artistas que participaram do disco e foram entrevistados em película como um registro. Em 2020, ao olhar para esse acervo, Nascimento entendeu que tinha material para um longa. No mesmo ano veio o aporte da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo para dar continuidade às gravações e à finalização do filme.

 

“Em uma sociedade arraigada de valores racistas e escravocratas, que na disputa do imaginário cultural brasileiro centraliza e valoriza unicamente as culturas europeias, a imagem do tambor e seus tocadores tende a estar associada a valores carregados de preconceitos, estereótipos e desqualificações técnicas e intelectuais. “Tambores da Diáspora” é um filme que se propõe a investigar a erudição implicada no instrumento e sua comunidade, perpassando pelos fundamentos e seus desdobramentos contemporâneos. O documentário busca romper com alguns clichês, evidenciando a importância do pensamento percussivo atrelado às diversas produções artísticas popularizadas, a sua relação com a dança, com o corpo e com a tecnologia, bem como aborda de maneira poética e discursiva aspectos importantes ao percurso dos tambores nas rotas culturais da diáspora africana nas Américas”, finaliza Nascimento.

 

Entrevistados

 

O filme é narrado por depoimentos e performances de artistas oriundos do vasto universo dos tambores, músicos experientes e consagrados no ambiente da percussão, que advém de territórios estéticos diversos, porém com abordagens complementares, contribuindo para uma trama que perpassa a visão antropológica, a técnica dos instrumentos, os ritmos, o processo artístico criativo, a religião do candomblé e as movimentações políticas. Na escolha dos personagens percebe-se a notoriedade no tema, a experiência, a trajetória artística, a função profissional e a importância da representatividade em grupos percussivos e comunidades.

 

A participação de Hélio Nogueira, ogã e luthier de atabaques, por exemplo, entrelaça a visão ancestral dos mestres Dinho Nascimento e Dinho Gonçalves, percussionistas consagrados mundialmente que dialogam com a geração de Silvany Sivuca e seus tambores digitais, sem abandonar as questões políticas enfatizadas em falas de Fernando Alabê, fundador do bloco Ilú Inã, e Beth Belli, fundadora do Bloco Ilú Obá de Min. Vale ressaltar também a participação de Paulo Dias, pesquisador e fundador da Associação Cachuera, de Marcos Suzano, percussionista que desenvolveu uma técnica própria de pandeiro, e o virtuosismo de Simone Sou com sua percuteria. O percussionista Pedro Bandera amplia a discussão trazendo sua bagagem cubana, que interage com o corpo tambor de Aluá Nascimento, criando intersecção com o dançarino Enoque Santos sobre a relação da percussão e a dança negra.

 

João Nascimento

Artista multi-linguagens, cineasta, pesquisador de cultura negra na diáspora, formado nas festas de caruru, nos batuques, sambas de roda e nas movimentações de capoeira no quintal de sua casa no Morro do Querosene. Graduado em Produção Musical pela Universidade Anhembi Morumbi, é diretor-fundador do Instituto Nação e coordenador do Ponto de Cultura Afrobase. Realizou a direção, roteiro e trilha sonora do longa-metragem “Danças Negras”;  direção, roteiro e trilha sonora do longa-metragem, “Tambores da Diáspora”; e direção da websérie “Escola do Samba” produzida em 2021 pela Kalakuta Filmes. Integrante da Frente 3 de Fevereiro desde 2004, realizou a cocriação do filme média-metragem “Zumbi Somos Nós”. Diretor-fundador da Cia Treme Terra e professor de percussão desde 1999. Já atuou como percussionista em diversos países, como Alemanha, Estados Unidos, França, Cuba, Bolívia, Bulgária, Noruega, Suécia e Inglaterra, entre outros.

 

Aluá Nascimento

Multi-instrumentista, estudou percussão popular e vibrafone na Universidade Livre de Música e percussão erudita na Escola Municipal de Música de São Paulo. Reside em Londres há mais de dez anos, onde integrou o elenco do STOMP e acompanhou inúmeros artistas consagrados.

 

Helio Nogueira

Ogã, batuqueiro de rua, filho de xangô e artesão de atabaques. Nascido na cidade do Rio de Janeiro e radicado em São Paulo há mais de três décadas, residindo no Morro do Querosene, onde possui seu ateliê de atabaques.

 

Enoque Santos

Nascido na Bahia, coreógrafo, bailarino, professor e pesquisador de cultura negra desde 1984. Em 1986 teve formação em dança com Augusto Omolú, Clyde Morgan, Armando Pequeno e Edva Barreto. Se apresentou com Clyde Morgan no espetáculo “Oriki Para Zumbi” em 1996.

 

Marcos Suzano

Carioca e percussionista, trabalhou com Gilberto Gil, Sting, Ney Matogrosso, Djavan, Andy Summers, Paulo Moura, Nana Vasconcelos, Elizete Cardoso e Marisa Monte, entre outros. Foi diretor do Percpan, panorama percussivo, durante nove anos. Realizou workshops de pandeiro e percussão nas cidades de Nova York, Den Haag, Amsterdã, Lisboa, Freiburg, Copenhagen, Tóquio, Osaka, Okayama e Sendai, entre outras.

 

Beth Belli

Percussionista e arte educadora, é graduada em Ciências Sociais. Fundadora, presidente, regente e diretora musical do Bloco Afro Ilú Obá De Min. É integrante da Grande Companhia de Mysterios e Novidades, participando de espetáculos em cidades do Brasil e no exterior.

 

Simone Sou      

Baterista, percussionista e compositora nascida em SP. Em 2016, gravou o CD “S.O.S Bras Beat” em Tilburg (Holanda). Seu primeiro CD, “Sim One Sou”, foi lançado em 2011 pelo Selo Circus. Simone trabalhou com Zélia Duncan, Itamar Assumpção e banda Orquídeas do Brasil, Zeca Baleiro, Os Mutantes, Anelis Assumpção, Funk Como Le Gusta, Carlinhos Antunes, Ray Lema, Yusa, entre outros.

 

Décio Gioielli  

Músico, compositor e pesquisador, foi percussionista da Banda Sinfônica do Estado de SP durante 25 anos. Gravou três álbuns: “Kalimba”; “Meu Neném”, parceria com o Grupo Palavra Cantada; “Mpbaby Caetano Veloso”. Viajou seis vezes ao continente africano para aprofundar seus conhecimentos sobre a música tradicional,especializando-se nos instrumentos da família dos Lamelofones - Kalimba e Mbira.

 

Dinho Gonçalves

É percussionista e baterista que trabalha no campo da música há cerca de 50 anos. Formou-se pela Berklee College of Music em composição, arranjos e regência. Viveu nos Estados Unidos, África, Cuba, Índia e outros países, sempre aprendendo e disseminando novas culturas musicais. Trabalhou com Gal Costa, Elba Ramalho, Tito Madi, Rita Lee, Sá e Guarabira, Johny Alf e Hermeto Pascoal.

 

Dinho Nascimento

Nasceu em Salvador, Bahia, em 1951, onde aprendeu a tocar berimbau e percussão nas rodas de capoeira, nos sambas de roda e “manifestações de rua”. Estudou no Seminário Livre de Música da Universidade Federal da Bahia (de 1968 a 1971). Na década de 70 Integrou o grupo Arembepe, com quem gravou dois compactos e eletrificou o berimbau transformando-o em sua guitarra, criando um estilo próprio de tocar.Dinho é idealizador-regente da Orquestra de Berimbaus do Morro do Querosene.

 

Silvanny Sivuca

Percussionista, baterista, educadora, mulher-preta-gay e tudo aquilo que o mundo permite que ela seja. Atua como percussionista e baterista na banda do Emicida, percussionista da Banda do Caldeirão do Mion, exibido pela Rede Globo, além de ter sido uma das artistas que mais tocou numa mesma edição do Rock’n’Rio.

 

Pedro Bandera

Percussionista cubano residente no Brasil. Integrante da Banda Aláfia e Batanga & Cia. Formado em Pedagogia Musical no Instituto de Pedagogia de Havana. Membro votante da Academia Latina de Gravação que anualmente entrega o Prêmio Grammy Latino.

 

Paulo Dias

Músico, produtor e livre-pesquisador de música nascido em São Paulo. Foi professor e pianista correpetidor no Coral da USP.  Desde 1988 dedica-se ao mapeamento, documentação e estudo das comunidades detentoras de tradições musicais populares, mais especificamente aquelas com forte presença centro-africana na Região Sudeste. Fundou e dirige a Associação Cultural Cachuera.

 

Fernando Alabê

Diretor artístico e musical, fundador do Bloco Afro Afirmativo Ilu Inã. Músico desde 1992, ogã, ritmista da Escola de Samba Vai Vai por 30 anos. Desenvolve pesquisa nos terreiros do axé e do samba, incluindo a cultura de bailes black paulistanos, que o fizeram ingressar no universo da percussão.

 

 

 

Serviço

Cine Marquise

Av. Paulista, 2073 - Bela Vista, São Paulo - SP, 01311-300

Telefone: (11) 3289-7275

Data: 23/3 (quarta-feira)

 Horário: 19h30

Ingressos: R$ 26 (inteira) e  R$ 13 (meia)

Duração: 75minutos

Faixa etária: livre

 

 

Ficha Técnica Diáspora

 

Direção: João Nascimento

Produção: Kalakuta Filmes

Artistas entrevistados: Aluá Nascimento, Beth Belli, Décio Gioielli, Dinho Gonçalves, Dinho Nascimento, Enoque Santos, Hélio Nogueira, Fernando Alabê, João Nascimento, Marcos Suzano, Paulo Dias, Pedro Bandera, Silvanny Sivuca e Simone Sou

Produção executiva: Fernanda Rodrigues

Edição e Montagem: Jéssica  Modono

Produção: Pedro Henrique

Coordenação financeira: Alexandre Alves

Câmeras: Beto Mendonça, Jeannine Ferreira, João Nascimento, Fernanda Rodrigues e Millena Heluana

Captação de áudio: Pedro Henrique e Beto Mendonça

Transcrição: Pedro Henrique

Legenda e tradução:  HD Cideo-Cinematográfica Ltda.

Pesquisa: João Nascimento e Pixú Flores

Organização de áudio: Pedro Henrique e João Nascimento

Trilha original e roteiro: João Nascimento

Mixagem Stereo e 5.1: Pedro Noizyman (EstúdioJLS)

Participações de artistas: Erick Jay, Pixú Flores, Mestra Dofona, Mestre Othelo, Manoel Trindade, Pedro Henrique e Wallas Pena.

 

SOBRE A PRODUTORA KALAKUTA

A Kalakuta é uma empresa cultural especializada em produções cinematográficas e fonográficas, possuindo em seu histórico diversos trabalhos relacionados à produção de filmes, vídeos institucionais, clipes musicais e conteúdos publicitários. Em 2019 foi contemplada no Edital SP Cine Distribuição de filme, realizando em 2021 o lançamento do longa “Danças Negras” em salas de cinema de mais de 10 Estados do Brasil. Em 2021 também lançou a websérie “Escola do Samba,” projeto selecionado em 2019 no edital ProAC festivais de Arte. Em 2021 produziu o documentário “Tambores da Diáspora”, filme selecionado no 2º Festival Cinema Negro em Ação do Rio Grande do Sul, sendo exibido na Cinemateca Paulo Amorim em Porto Alegre. O filme, que contou com patrocínio do edital PROAC da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, foi selecionado no edital PROAC 2021 categoria “Licenciamento” (sem exclusividade) para longa-metragens.

Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=WleZy2JdHqU

Site: www.kakutafilmes.com.br

Canal youtube: https://www.youtube.com/c/kalakutaproduções



 



Categoria:Noticias de samba e pagode

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